Por Luís M Gardolinski
Pensar na logística apenas como transporte rodoviário é uma consequência natural do nosso contato diário com caminhões de diversos tamanhos e nomes, como Logística Fulano de Tal, Log-algo, ou qualquer outra denominação que remeta à velocidade ou ao globo. Contudo, a logística vai muito além disso. Ela começa com a extração da matéria-prima e se estende até a entrega do produto final ao consumidor. A questão que se coloca é: o que temos feito para transformar essa logística em algo verde?
É ótimo consumir legumes sem agrotóxicos, mas o pensamento de que esses legumes foram transportados por caminhões sucateados, que consomem óleo diesel e emitem mais fumaça do que o permitido, é preocupante. Não podemos exigir que um pequeno agricultor conheça e administre os conflitos relacionados à Logística Verde. Mas e quanto aos profissionais de multinacionais que transportam suas valiosas exportações em contêineres subutilizados? Estamos pagando frete para transportar ar brasileiro pelo mundo, o que implica em maior consumo de combustível, mais poluição e custos elevados.
Enquanto o Governo de São Paulo exige que empresas organizadoras de eventos compensem as emissões de monóxido de carbono geradas por suas atividades, plantando árvores ou adotando outras medidas, o governo federal parece omisso, sem investir em melhorias no sistema logístico ou incentivar a renovação da frota de veículos. A poluição gerada pela queima de combustíveis fósseis é uma das maiores responsáveis pelo aquecimento global.
Reduzir o impacto da ineficiência logística sobre todos os produtos, inclusive aqueles menos verdes, deve ser uma meta para todos na cadeia de produção, desde a indústria até o transporte e o cliente. Em países onde essa preocupação já é uma realidade, ferramentas que automatizam e agilizam o processo de otimização logística são amplamente utilizadas. Mas por que não avançar ainda mais?
Imagine um pedido de exportação que acaba de chegar e não cabe em um contêiner de 20 pés. Você só descobrirá isso quando estiver na porta do contêiner, após comprar a matéria-prima, industrializá-la e tentar carregar o veículo. O cliente já pagou pela carga e agora surge um problema: sua logística está “cinza”! Você tem um saldo de pedido que não cabe no veículo. As opções que surgem são:
- Embarque parcial, onde a carga excedente fica aguardando um novo pedido do cliente. Isso faz com que o cliente fique sem o produto e tenha que pagar um frete adicional.
- Cancelamento do item excedente com devolução de recursos, o que envolve complicações e a intervenção de órgãos como o Banco Central.
- Contratação de um contêiner maior, resolvendo o problema, mas aumentando o frete em 50% e preenchendo o restante do contêiner com ar brasileiro.
- Nenhuma das anteriores. No momento do recebimento do pedido, verifica-se com o analista de logística qual é o veículo ideal para a carga e realiza-se os ajustes necessários para cobrar do cliente apenas pelo que será produzido e transportado. Esta é a aplicação da logística verde na indústria!
Esses são apenas alguns exemplos do que pode ocorrer sem planejamento. Não precisamos esperar que o governo imponha ações verdes; se o transporte é o maior custo na nossa logística nacional e internacional, devemos sempre planejar de forma otimizada para alcançar resultados verdes, e não cinzas.